e o Eu ideal
O nome da obra faz referência ao mito de Narciso, um jovem de grande beleza que, apaixonado pela própria imagem refletida num lago, afoga-se ao tentar alcançá-la.
Em nosso dia a dia, também evocamos com frequência este mito e não é incomum nos referirmos àquele colega que abarrota sua página de Facebook com selfies dizendo: “Poxa, como essa pessoa é narcisista!”.
Na Psicanálise, ainda que o termo narcisismo possa estar relacionado ao adoecimento psíquico, também é utilizado para designar uma condição necessária e mesmo estrutural na constituição do Eu do indivíduo.
O Eu, unidade que se forma da integração do corpo com o psíquico para lidar com a realidade que lhe é externa, não é dado a priori, pois surge na relação do ser humano com outro ser humano, mais comumente com os pais.
Então, quando vemos pais “babando” por seu bebê, podemos entender que estão dando a ele um lugar no mundo, e o bebê, por sua vez, vai se reconhecendo como um ser enquanto razão da felicidade de seus pais.
Freud chega a dizer que, nessa fase, a criança é “Sua majestade, o bebê”. Essa condição narcísica permitirá que, mais tarde, em condições satisfatórias de desenvolvimento, o indivíduo possa destinar a outras pessoas e coisas do mundo o amor que esteve voltado unicamente para si no início de sua vida.
Portanto, durante a nossa existência, esse amor (ou precisamente a libido) estará num constante movimento pendular, ora pendendo para o eu, ora para os objetos; uma balança da qual, nossa saúde psíquica muito dependerá de seu equilíbrio.
Dessa forma, a marca de um tempo em que fomos perfeitos, um Eu ideal, que Freud chamou de narcisismo primário, jamais nos deixará, e tanto poderá ser causa de sofrimento se permanecermos alienados a esse ideal, como representar o alicerce para a emergência de um sujeito único e verdadeiro.
Na obra de Kusama, nosso reflexo como observadores em cada uma das bolas de aço pode representar a busca insana de reencontrarmos a imagem perfeita de quem um dia nós fomos.